| Foto  e biografia:   https://www.academia.org.br/academicos/pedro-luis   PEDRO LUIS PEREIRA DE  SOUSA (  Brasil – RIO DE JANEIRO )     Pedro Luís (Pedro Luís Pereira de Sousa),  advogado, jornalista, político, orador e poeta, nasceu em 13 de dezembro de  1839, em Araruama, RJ, e faleceu em Bananal, SP, em 16 de julho de 1884. É o  patrono da cadeira n. 31 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Luís  Guimarães Júnior.   CLÁSSICOS JACKSON – VOLUME  XXXIX  POESIA 2º. Volume. Seleção  de ARY MESQUITA.  São Paulo, SP: W. M.  Jacson Inc., 1952.  293 p.  encadernado.         14  x 21,5 cm         Ex. bib. Antonio  Miranda     TERRIBILIS DEA
 Quando  ela apareceu no escuro do horizonte,
 O cabelo revolto... a palidez na  fronte...
 Aos ventos sacudindo o rubro pavilhão,
 Resplendente de sol, de sangue  fumegante,
 O raio iluminou a terra...  nesse instante
 Frenética e viril ergueu-se uma nação!
 
 Quem era? Por onde vinha aquela grande  imagem,
 Que turbara do céu a límpida miragem,
 E de luto cobrira a senda do porvir?
 De que abismo saiu?... do túmulo, do  inferno?
 Pode o anjo do mal desafiar o Eterno?
 Da fria sepultura o espectro ressurgir?
 
 Deixai que se levante a grande  divindade!...
 Seu templo é a terra e o mar: seu culto  — a mortandade:
 Enche-lhe o peito largo o sopro das  paixões...
 É a mulher fantasma! Uma visão de  Dante...
 Dos campos de batalha a hórrida bacante,
 Que mergulha no sangue e ri das maldições!
 
 A deusa do sepulcro!  A pálida rainha!
 A morte é a sua vida.  Impávida caminha,
 Ora grande, ora vil, nas trevas ou na  luz;
 A corte que a rodeia é lúgubre coorte;
 Tem gala e traja luto:  é o séquito da morte,
 A miséria que chora,  a glória que seduz.
 
 Desde que o mal nasceu, nasceu aquele  espectro;
 De raios coroou-se!  Ao peso de seu ceptro,
 A terra tem arfado em transes  infernais!...
 Do mundo as gerações têm visto em toda  idade,
 Sinistra, aparecer aquela divindade,
 Celebrando no sangue as grandes  saturnais.
 
 No seu olhar de fofo, há raios de  loucura...
 Tem cantos de prazer!  Tem rios de amargura!
 Muda sempre de céu, de rumo, de farol!
 Aqui — pede ao direito a voz forte e serena;
 Ali — ruge feroz, feroz como uma  hiena...
 Assassina na treva ou mata à luta do  sol!...
 
 Levanta o gládio nu em nome da verdade,
 Acorda em fúria acesa à voz da  liberdade...
 E no punho viril derrete-lhe o grilhão!
 Como é bela!...  Depois... sem fé, sem heroísmo,
 Despedaça a justiça e atira com cinismo
 A virgem liberdade aos braços da  opressão!
 
 É uma deusa fatal!  Quer sangue e atira flores!
 Abraça, prende, esmaga os seus  adoradores,
 Embriaga-os de glória e os cerca de  esplendor;
 E esses loucos, depois de feitos de  gigantes,
 A túnica lhe beijam, ardente,  delirantes,
 E morrem a seus pés, na febre desse  amor.
 
 Quando Átila — o monstro, o  tigre-cavaleiro,
 Espumando, a correr, calcava o mundo  inteiro,
 A deusa o acompanhava, e ria-se...  a cruel!
 Tinha a face vermelha, ardia de coragem,
 Dava beijos de amor na fronte do  selvagem,
 Enterrando o aguilhão no flanco do  corcel!
 
 Era  ela que em Roma erguia-se funesta,O ídolo do povo em sempiterna festa!
 O amor de Cipião, de César, de Pompeu!
 Vergava com seu braço o braço do  destino,
 Prendeu nações e reis ao monte Palatino,
 E em doida bacanal depois desfaleceu.
 
 Foi de Carlos o grande a excelsa  companheira!
 Deu-lhe o trono de bronze, a espada  aventureira,
 E o globo imperial... e glórias... e troféus;
 Quando, no escuro vai, Rolando,  moribundo,
 Erguia o colo a deusa além dos  Pirineus!...
 
 Seguiu Napoleão da França até o Egito,
 Nos mares, no deserto, em busca do  infinito,
 Das terras do Evangelho às terras do  Corã...
 Dos delírios da Europa aos sonhos do  Oriente.
 Teve medo, afinal, daquela febre  ardente...
 Lá no meio do mar prendeu esse Titã.
 
 Ela estava a sorrir, serena e  triunfante,
 Aos pés do Farragut, o intrépido  almirante,
 Lá no tope do mastro, enquanto o minitor
 Em doidas convulsões, das túmidas  entranhas
 Vomitava metralha a derribar montanhas,
 E do mundo arrancava um grito de terror.
 
 Ela estava também — espectro pavoroso —
 Do Amazonas a bordo, ao lado de  Barroso,
 De pólvora cercada, em pé, sobre o  convés...
 Quando, à voz do valente, o monstro foi  bufando,
 Calados os canhões, navios esmagando
 A deusa varonil de amor caiu-lhe aos  pés!
 
 Salve, da guerra deusa, arcanjo de  batalha!
 Que voas no vapor, que ruges na metralha,
 Que cantas do combate aos infernais  clarões!
 Quando arrancas do bronze os cânticos  malditos,
 O céu é fogo e aço; o ar — pólvora e  gritos...
 E ferve e corre o sangue em quentes  borbotões!
 
 Salve, tu! que nos deste o sonho da  vingança,
 O gládio da justiça, o raio da esperança,
 E da glória cruenta o mágico esplendor!
 E para te saudar que brame a artilharia,
 E que repete ao a voz da ventania
 Das trombetas da morte o hórrido  clangor!
 
 Quando ela apareceu no escuro do  horizonte,
 O cabelo revolto...  a palidez na fronte...
 Aos ventos sacudindo o rubro pavilhão,
 Resplandente de sol, de sangue  fumegante,
 O Raio iluminou a terra...  nesse instante
 Frenética e viril ergueu-se uma nação!
 
 
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